Mitos e dicas sobre bikes para mulheres

Dúvidas que surgem ao adquirir uma bicicleta
Dúvidas que surgem ao adquirir uma bicicleta
Questionamentos ao se comprar uma bike sendo uma mulher

Ilustrações: Gabriela Kato

Quando se faz uma procura em qualquer buscador na internet, os primeiros resultados sempre são inúmeras bicicletas que simplesmente apresentam uma estética que se acredita como “feminina”, mas que não atendem, de fato, o universo da mulher.

Em uma busca um pouco mais objetiva, indo além da página dois do que seria uma “bicicleta para mulher”, já é possí­vel encontrar alguns modelos que apresentam soluções interessantes. Algumas marcas andam notando esse nicho especí­fico e fazendo sua lição de casa para atender esse mercado, que para eles é nascente. Contudo, as mulheres estão aí­ desde que o mundo é mundo, representam uma parcela considerável do mercado consumidor e o atendimento especí­fico a elas ainda é algo bastante novo.

O que olhar numa bicicleta além da estética:

FUNCIONALIDADE: hí­brida, fixa, single speed, dobrável, MTB, speed, cyclocross, bmx. Ou seja, se vai ser usada em estrada de terra, no asfalto, se será carregada em transporte público, ou em longos trajetos cicloturí­sticos, etc. Existe uma boa variedade de tipos de bike que podem ser procurados. Essa escolha INDEPENDE do gênero.

TAMANHO: um cuidado ao se procurar uma bicicleta é o tamanho dela (do quadro), normalmente encontrada das seguintes formas:

  • POLEGADAS: (15″, 17″, 19″, 21″ ou 16″, 18″, 20″, 22″) nesse caso, já notei que as pessoas com menos conhecimento na área tendem a confundir o tamanho do aro (ou seja, o tamanho da roda) com o tamanho da bicicleta, por conta de usarem a mesma unidade de medida;
  • CENTíMETROS: 48cm, 50cm, 52cm, 54cm e por aí­ vai.
  • SS, S, M, L, XL, XLL, XLLL: quando se encontram no padrão “pequena”, “média” e “grande” é importante checar sua equivalência em relação a uma das unidades acima citadas.

Existem algumas tabelas na internet para auxiliar nessa procura. Para a maioria dos casos, essas tabelas dão certo, mas existem pessoas com certas peculiaridades. Então, é sempre bom falar com algum especialista no assunto para ter certeza, lembrando sempre que essas tabelas que levam em conta somente a estatura têm por base muitas vezes uma realidade í  qual não pertencemos, como o padrão europeu. Exemplo: orientais costumam ter o tronco mais comprido e o “cavalo” (a distância entre a base do tronco e a sola dos pés) mais curto em comparação í s europeias, e isso influencia bastante no tamanho da bicicleta. Acontece a mesma coisa com pessoas mais longilí­neas. É sempre bom lembrar que, mesmo havendo uma padronização, cada pessoa tem sua idiossincrasia, então é sempre bom prestar mais atenção ao que seu corpo fala durante uma pedalada do que em tabelas de internet. Outra coisa, quando for fazer um teste na bicicleta, não considere que uma simples volta no quarteirão vai te deixar realmente a par do “fit” (“tamanho e ajuste”) da bike para você.

Ilustração explicativa sobre cavalo

ESPECIFICIDADES: aqui entram as reais diferenças técnicas que dizem respeito a diferenças biológicas na escolha de uma bike. Farei uma lista abaixo de alguns detalhes a serem observados:

SELIM: o tamanho e as áreas de contato, considerando a morfologia dos ossos do quadril que se diferencia entre homens e mulheres, são coisas que acabam fazendo muita diferença. Algumas marcas já fazem selins que respeitam esses fatores;

MANOPLAS: a mão de muitas mulheres costuma ser menor que a dos homens. Assim sendo, as manoplas precisam ter um diâmetro reduzido para poderem se adequar melhor (o que não significa de forma alguma que não existam mulheres com mãos maiores ou homens com mãos menores, ou qualquer variação que se possa pensar);

STI/FREIO: o mesmo caso descrito no item acima se adequa aos manetes de freio e STIs, sendo que algumas marcas e modelos incluem um calço para STIs, a fim de tornar seu acionamento mais fácil para quem tem a mão menor.

QUADRO: pela diferença de estatura e proporção corporal, algumas variações foram feitas por algumas marcas. Por exemplo, o tamanho “P” dos quadros para mulheres são menores do que os “P” feitos para homens. Essa diferença é importante, pois consegue ser mais abrangente e factí­vel para o uso de muitas de nós. É importante ressaltar que os padrões atendem uma média geral e irei citar o caso especí­fico do meu quadro para deixar algumas questões mais claras: meu quadro é um “‘P’ feminino”, ou seja, menor que os “‘P’ masculinos”. Eu. sendo descendente de oriental, tenho um tronco comprido e, na verdade, seria mais adequado usar um “‘M’ feminino” da mesma marca, ou um “‘P’ masculino”.

SUSPENSíƒO: é comum o tronco de uma mulher ser mais leve que o tronco de um homem, logo, a força que aciona a suspensão (“amortecimento”) é diferente nos dois casos. Esse ajuste pode ser feito diretamente na suspensão e também já existem algumas que vêm com uma modificação para acioná-la com uma força menor;

GUIDíƒO: em muitas modalidades, é interessante que o guidão tenha a largura do ombro de quem está pedalando a bicicleta. Em muitos casos, é fácil acertar essa medida simplesmente cortando o componente, mas essa é uma tática que não pode ser usada com o guidão de speed (o modelo chamado “drop”, curvado para baixo), por exemplo, quando é importante que a bike já venha com essa peça no tamanho adequado. Existem marcas com modelos de bicicleta que já vêm com um guidão padrão de 38cm, uma largura menor e mais adequada í s mulheres, o que é impossí­vel de acontecer com as bicicletas speed tradicionais.

MITOS:

Mulheres devem usar quadro rebaixado/step through: não, esse não é um fato que se adequa a TODAS as mulheres. Ele é interessante nos seguintes casos: para subir e descer da bike com maior facilidade; para dar maior segurança psicológica í s pessoas que estão começando a pedalar, pois elas se sentem mais seguras para colocar o pé no chão rapidamente, se necessário – essas duas questões independem de gênero; e, por fim, para usar saia. Mas, quanto a esse último exemplo, tem muita mulher que não usa saia e tem muita mulher que usa saia e se vira bastante bem com um quadro no formato “diamante” clássico (com o tubo superior alto e praticamente horizontal); além disso, não é um quadro somente para mulheres.

Quadro step-through (“rebaixado”) e diamante

Esteticamente ‘feminino’: não existe nada de errado em as coisas terem essa caracterí­stica (como cores que variam entre o rosa e o azul bebê, ou estampas de flores), mas absolutamente TODAS as coisas voltadas para esse público terem essa configuração é problemático (ou melhor dizendo, MUITO FRUSTRANTE), pois é como se todas as mulheres se enquadrassem em um único gosto estético. Não, isso não é verdade. As flores e formatos geométricos delicados podem e devem ficar, mas também deve haver outras opções. Algumas marcas de roupa de ciclismo muito boas decidiram que borboletas deveriam estar em TODAS as estampas, e isso com certeza contou na hora de muitas fazerem suas escolhas ao comprar ou não os seus produtos.

Este texto foi escrito para ajudar algumas mulheres que estejam pesquisando sobre o que levar em conta na hora de adquirir uma bike. E fica a esperança de que as empresas do ramo, em um futuro próximo, tragam maior variedade e adequações mais práticas a esse público.

(1) Nesse texto estou colocando mulher e homem “cis” como “padrão” por uma questão prática.
(2) Nesse capí­tulo especificamente estou falando sobre diferenças anatí´micas entre a média da população “cis”. Se houver alguma informação sensí­vel que não foi colocada, ou mesmo mal colocada, gostaria de ser avisada para não incorrer no mesmo erro.

9 Comments

  1. Adorei o post, ao procurar bicicletas pra compra tive muitos dos problemas relatos.
    Não entendo muito de bikes, então só queria uma bike básica (com marchas, só) onde eu coubesse e de preferencia de alumí­nio por ser mais leve (pq sou pequena e não tenho muita força) e com um preço não alto.
    Quando fui a uma loja de bicicletas da minha cidade só encontrei praticamente dois modelos adultos no qual conseguia sentar e encostar a ponta dos meus pés no chão (não tenho pratica, então pra mim isso é crucial) ambas modelos caros . Os modelos infantis onde eu me encaixavam melhor tinham duas opções básicas: a masculina com suspensão dianteira e traseira, marchas e um desing aventureiro (que não era de alumí­nio) e feminina infantil que só tinha a “cestinha” e pasmem a feminina era mais cara, sem ter nada!
    No final das contas acabei adiando a compra por não achar uma bike que eu coubesse e que não fosse muito cara também. Realmente frustante….

    • Olá!
      Que bom que gostou do texto da Talita! =)
      Dependendo da faixa de preço que está procurando, talvez uma bike dobrável possa ajudá-la. As marcas de preço razoável e qualidade mais confiável são as da Durban/Dahon. Eu tenho uma que usei bastante para ensinar outras pessoas a pedalar no Bike Anjo, principalmente as que tinham menos de 1,70 de altura e também sentiam necessidade de encostar o pé no chão, já que é um tipo de bicicleta que permite abaixar bastante o banco/selim.
      As dobráveis costumam ser bem leves para subir ladeira, mas não “pegam velocidade”. Se você não pretende pedalar distâncias muito longas (mais de 20km por viagem), é provável que isso não vá fazer muita difereça. Mas recomendo também considerar que geralmente elas vêm com pneu “para cidade”, então não são tão adequadas para ruas muito esburacadas.
      Qualquer nova díºvida, ou se quiser entrar em mais detalhes, fique í  vontade no nosso espaço de comentários. =)

  2. Hoje sofri uma queda. Sniff , sniff. Tentando aprender co. Uma bike alugada. Muito pesada e não ma dava apoio bom no pé direito. Tenho 1,53 metros e ja 53 anos. Meu sonho é andar de bicicleta. Não quero desistir de novo por medo

  3. muito bom o texto! os padrões cis e europeus dominam tudo, não é mesmo? o jeito é montar uma bike peça por peça.

    sou trans homem em busca de uma bike com conforto, pra pedalar mais na cidade, e me deparei com questionamentos acerca do celim, já que a minha estrutura óssea é como das mulheres cis, mas musculatura e gordura seguem um padrão masculino. Já fiquei imaginando a cara do atendente se eu optasse por um banco feminino hahah. preciso ler mais um pouco pra conseguir fazer a melhor escolha pro meu corpo.

    • Ficamos felizes que tenha gostado!

      Essa coisa de seguir padrões de fora realmente complica, né? Só de ter uma estatura um pouco menor do que a média, já fica difí­cil encontrar um quadro no tamanho adequado.
      Sobre o selim, há bicicletarias que oferecem o serviço de bike fit. Uma das coisas que medem é a distância dos ossos í­squios.

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